O número de aposentados e pensionistas com mais de 90 anos no Brasil está crescendo em ritmo acelerado, superando de longe o aumento do total de beneficiários da Previdência. Com isso, o sistema previdenciário enfrenta uma pressão crescente, à medida que mais pessoas vivem mais tempo e continuam a receber benefícios por períodos prolongados. Mas como esse fenômeno afeta diretamente a estrutura da Previdência e o que pode ser feito para garantir sua sustentabilidade no futuro? Vamos entender melhor essa situação e seus desafios.
O Avanço da População Acima de 80 e 90 Anos
De acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o grupo de aposentados com mais de 90 anos aumentou, em média, 6,3% ao ano entre 2013 e 2023. Já entre os que têm mais de 80 anos, o crescimento foi de 3,9% no mesmo período. Em contraste, o total de beneficiários da Previdência, somando aposentados e pensionistas, cresceu a uma taxa de 2,2% ao ano.
Esses números demonstram um crescimento mais rápido entre os idosos, refletindo tanto o aumento da expectativa de vida quanto a melhoria na qualidade de vida dos brasileiros. Em 2013, haviam cerca de 416 mil aposentados com mais de 90 anos. Em 2023, esse número quase dobrou, chegando a 769 mil. O crescimento também é expressivo entre os idosos de 80 anos ou mais, que saltaram de 2,9 milhões em 2013 para 4,3 milhões em 2023.
Os Desafios Para a Sustentabilidade da Previdência
O aumento no número de beneficiários de idade avançada traz uma pressão considerável sobre o sistema previdenciário. A principal questão reside no fato de que, quanto mais tempo as pessoas vivem, mais tempo recebem benefícios. Isso significa que a duração média da aposentadoria e das pensões está crescendo, sem que haja uma contrapartida proporcional no número de contribuintes ativos.
Outro fator que contribui para esse cenário é a diminuição no número de jovens e adultos em idade produtiva, que são os principais responsáveis por financiar o sistema previdenciário. Esse desequilíbrio entre contribuintes e beneficiários pode resultar em um aumento do déficit previdenciário, além de pressionar o sistema de saúde, que também precisa se adaptar a uma população mais envelhecida.
Propostas Para Reverter a Situação
Especialistas alertam que, diante desse rápido envelhecimento populacional, será necessária uma nova reforma da Previdência em um futuro próximo. O economista Rogério Nagamine, do Ipea, sugere algumas medidas, como o ajustamento automático da idade mínima para aposentadoria conforme o aumento da expectativa de vida. Além disso, é preciso revisar as regras de aposentadoria de categorias especiais, como militares, professores e trabalhadores rurais.
Por outro lado, o professor Hélio Zylberstajn, da FEA/USP, defende que a próxima reforma seja estrutural, mudando o modelo de repartição que atualmente rege o sistema previdenciário. Ele propõe a adoção de um modelo baseado em quatro pilares, que inclui desde uma renda básica para idosos, até um sistema de capitalização voluntário.
O Que Podemos Esperar do Futuro da Previdência?
Com a população idosa crescendo rapidamente e vivendo cada vez mais, o futuro da Previdência Social depende de ajustes que considerem essa nova realidade. A reforma de 2019 trouxe avanços, mas os especialistas já preveem a necessidade de novas mudanças nos próximos anos. A sustentabilidade do sistema requer tanto a adaptação das regras de aposentadoria quanto uma discussão ampla sobre o papel da Previdência no Brasil.
Apoiar a qualidade de vida dos idosos é essencial, mas garantir que o sistema continue a funcionar sem colapsar é um desafio igualmente crucial. Para manter o equilíbrio financeiro da Previdência, será necessário enfrentar questões como o envelhecimento da população, a redução no número de contribuintes e o crescente déficit previdenciário.
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